Alergia à proteína do leite de vaca
A alergia ao leite de vaca é uma doença praticamente exclusiva às crianças nos primeiros meses de vida ou durante a infância, raramente surge na adolescência. Em bebês, a alergia alimentar mais frequente é ocasionada pelas proteínas do leite de vaca. É frequentemente descrita nos primeiros dois a três meses de idade e quase sempre desaparece após o quarto ano de vida. Estudos mostram que, na mesma família, a alergia ao leite de vaca pode apresentar manifestações clínicas diferentes e as crianças com esse tipo de alergia podem desenvolver outros processos alérgicos, como eczema (dermatite) e asma. |
Em uma recente pesquisa, realizada em consultórios de gastroenterologistas pediátricos das regiões sul e sudeste do Brasil, 7,4% de 9.478 crianças apresentaram suspeita de alergia alimentar, sendo relacionada ao leite de vaca em 77% dos casos.
O mecanismo pelo qual se desenvolve a alergia alimentar envolve, alem dos antígenos, processos de fundamental importância, como a permeabilidade da barreira do trato gastrointestinal e a predisposição genética individual. A imaturidade fisiológica do aparelho digestório, inerente aos dois primeiros anos de vida e o sistema imunológico também imaturo nessa faixa etária, são fatores importantes para que o desenvolvimento da alergia a proteína do leite de vaca (APLV) na infância se estabeleça.
O tratamento se baseia na exclusão (retirada) completa de leite de vaca e derivados da dieta, ou seja, importantes fontes de nutrientes, como o cálcio. A terapêutica de exclusão da proteína do leite de vaca requer atenção quanto à introdução de uma dieta de substituição adequada, que atenda as necessidades nutricionais das crianças e assim permita seu crescimento e desenvolvimento normal. Uma dieta de exclusão inadequada pode ocasionar alterações nutricionais, como déficit de crescimento e desnutrição.
Durante a dieta de exclusão, preconiza-se a continuidade do aleitamento materno com retirada das proteínas do leite de vaca da dieta materna. Entretanto, na impossibilidade de manutenção do leite materno, devem ser utilizadas fórmulas especificas em substituição ao leite de vaca. Segundo a recomendação da American Academy of Pediatrics, no ano 2000, as formulas a base de soja podem ser prescritas para pacientes com reações mediadas por IgE, sem sintomas gastrointestinais, particularmente após os seis meses de idade. Para os demais lactentes, recomendam-se fórmulas a base de hidrolisado e, se não houver remissão dos sintomas, indicam-se as fórmulas a base de aminoácidos. Já a Sociedade Européia de Gastroenterologia Pediátrica, Hepatologia e Nutrição não distingue o tratamento de APLV mediada por IgE da não mediada por IgE, e não recomenda uso de fórmulas a base de soja no inicio do tratamento. Ambas as entidades recomendam a exclusão de qualquer produto ou fórmula que contenha a proteína intacta ou parcial do leite, além de leites de outras espécies, como cabra e ovelha.
A eliminação do leite de vaca e derivados da dieta pode favorecer o déficit energético-protéico, de cálcio e de vitamina D na dieta se uma alimentação de substituição que atenda as recomendações, segundo sexo e idade, não for implantada. Inadequações na dieta de exclusão podem levar ao comprometimento do crescimento de crianças com APLV e por isso faz-se necessário o monitoramento do crescimento e desenvolvimento dessas crianças, assim como do aporte de nutrientes e energia oferecidos.
07/07/11